quinta-feira, 25 de abril de 2013

QUEM É ELE? ou SEXO X REALIDADE


Ela o viu pela primeira vez no aeroporto, na área de recolhimento de bagagem. Barba mal feita, roupa amassada, cabelos despenteados e até meio sujos. Mãos grandes. Gostava de mãos grandes. Na verdade, gostou da obra completa. Já imaginava deitar-se em uma cama de hotel de quinta com aquele sujeito misterioso. Pena que era tímida. Tinha apenas alguns minutos para tentar chamar sua atenção. Depois, sua mala chegaria; a dele também, e cada um seguiria seu caminho.

Mas quis o destino que seus caminhos fossem o mesmo. Já estava distraída, dentro do ônibus da operadora da excursão, olhando pela janela, quando o viu passar a seu lado. E, logo em seguida, entrar no ônibus. Seu coração chegou a acelerar. Infelizmente o assento a seu lado já tinha sido ocupado por uma senhora que parecia estar viajando com o filho e a nora, sentados à sua frente. Mas, se ele entrara no ônibus da excursão, é porque fazia parte do grupo. Viajariam juntos durante uma semana! Tempo mais do que suficiente para que ela se aproximasse. Era tímida, mas não era uma mosca morta.

 
Nem precisou se esforçar. Ele mesmo se apresentou, na manhã seguinte, quando pediu licença para sentar-se à sua mesa, no café da manhã. É bem verdade que depois não abriu mais a boca. Melhor assim. Pôde observá-lo com calma. Percebeu a pele curtida de sol, com pequenas rugas ao redor dos olhos. A barba, muito espessa, continuava por fazer. Tinha um dente quebrado. Mas fixou-se especialmente nas mãos. A forma como pegava o pão, como o partia, passava a manteiga, nada lhe escapava. Tudo muito sensual. Já se imaginava no lugar do pão, que ele abria com os dedos e recheava com um pedaço de queijo minas. Nem se importou quando ele coçou o saco e, em seguida, cutucou a narina. Estava fascinada. Imaginava-o como uma espécie de Indiana Jones. Sequer questionou o que um homem como aquele estaria fazendo numa excursão turística.

 
Durante o dia visitaram ruínas maias. Entrosou-se com uma mulher que viajava com o filho adolescente. Mas continuava a observá-lo de longe. Ele se mantinha afastado do grupo, interagindo apenas esporadicamente com um dos guias. Especulou com a nova amiga. Quem seria? O que faria ali? Agente secreto, sugeriu a moça, entusiasmada. Tem pinta de fazendeiro, disse o garoto, entediado. Fazendeiro? Imagina, que bobagem, riu-se. Fazendeiros são mais velhos e gordos e, quando viajam ao exterior, usam relógios de ouro. Já ele, usa sandálias de couro. Poderia, no máximo, ser um pescador.

 
Por sorte ou premeditação, à noite, no luau, ele sentou-se a seu lado. Comeram e beberam juntos, quase sem falar. Ela continuava hipnotizada por suas mãos. Não saberia dizer em que momento uma delas começou a afagar sua coxa, por cima de sua saia, e depois por baixo. Estava tão excitada que nem se importou que as pessoas estivessem vendo. Além disso, não estavam fazendo nada demais. A mão não passava do limite. Mantinha-se enlouquecedoramente na fronteira da indecência. Primeiro na coxa, depois nas costas, por cima de sua blusa, e também por baixo, na sua lombar, descendo até entrar sob o cós de sua saia. Não saberia dizer como decidiram que era hora de partir. Foram andando pela praia em direção aos bangalôs. No caminho, ele a beijou. Sensacional! Uma cena digna de filme, e ela estrelando!

 
Não combinaram nada, mas foram parar no quarto dela. Melhor assim, pensou, pois poderia vestir uma das camisolas que trouxera na esperança de encontrar companhia para passar a noite. Enquanto ela se trocava, ele abriu uma garrafinha de tequila do frigobar. E acendeu um cigarro. Já sabia que ele fumava. Só não tinha reparado que eram cigarros de palha. A fumaça incomodava, mas o cheiro e o gosto de sua boca eram ótimos. Nada mais masculino do que o aroma de tabaco. Talvez fosse uma memória de infância. Uma das poucas que guardava de seu pai, que abandonara a família quando tinha apenas 4 anos.

 
Na cama, qualquer lugar em que ele a tocasse, a deixava louca. E ele tocava por todo lado. Ela, longe de tudo, de seu país, de sua casa, de sua família, de seu trabalho, de toda a sua vida, entregou-se como se não houvesse amanhã. Um sexo animal, como jamais se permitira. Ele só foi embora de madrugada, para que pudessem dormir um pouco, antes do passeio ao parque aquático. Ela não conseguiu. Ficou acordada até a hora de se arrumar para sair, recordando os detalhes da noite e imaginando sequências. No café, ele demorou a aparecer. Já estava apreensiva, prestes a revelar sua aventura à amiga. Aliás, só não revelou porque o garoto estava sem os fones de ouvido. Melhor assim.

 
Por um acordo tácito, mantiveram-se distantes durante o dia e só voltaram a se pegar (não havia outro verbo para descrever o que faziam) à noite, depois do jantar. Passaram o resto da viagem desse jeito. Quase não falavam. Mas, à noite, sempre acabavam juntos. Mais do que juntos, misturados mesmo.

 
Até que a viagem acabou. No aeroporto, trocaram telefones e e-mails. Manteriam contato e se encontrariam em breve. Ela fingiu não se decepcionar quando ele disse que era fazendeiro no Mato Grosso do Sul. Que ganhara a viagem no bingo beneficente organizado por uma ONG americana. Pelo menos, não era casado. Afinal, o que importa?

 
Duas semanas depois, no primeiro feriado prolongado, ele foi visitá-la. Recebeu-o em sua casa. Não foi a mesma coisa, mas, passado o estranhamento inicial, reacenderam a paixão. Ele ficou por 3 noites.

 
No mês seguinte, tirou uma semana de férias e foi conhecer a fazenda. Vê-lo em seu habitat. Não estava preparada para conhecer a irmã mais velha, que morava com ele. Uma senhora solteirona. Fitou-a de cima a baixo, com ar de reprovação. Mas, assim como ocorrera na sua cidade, após algumas horas, reconheceram-se. A irmã que se danasse!

 
Mas, dois meses mais tarde, a irmã teve um derrame. Ele ficou muito mal. Era sua irmã mais velha, que ajudara a criá-lo após a morte de sua mãe. Ela foi para a fazenda apoiá-lo. Não houve qualquer estranhamento. Mas também não houve faísca. Ele estava triste. Ela, preocupada com o trabalho que deixara para trás e com o gato, que ficara aos cuidados do porteiro. Quando a irmã voltou para casa, quase sem sequelas, ela voltou para a cidade.

 
Quando ele foi visitá-la, algum tempo depois, ela percebeu que seu casaco era de tricô, com protetores de couro costurados na altura dos cotovelos; que ele não tinha lido nenhum dos livros de sua estante; que não gostava de filmes românticos; que nunca tinha sido casado; que acreditava em Deus e frequentava a igreja; que preferia cachaça a vinho; que achava o homossexualismo uma doença; e que tirava meleca do nariz e grudava na borda de sua cama. Além disso, seu "r" arrastado já lhe estava dando nos nerrrrvos...

 
Na cama, ela ainda tentou recapturar a imagem daquele homem misterioso pelo qual se apaixonara. O Indiana Jones do Pantanal. Mas o celular dele tocou. Chitãozinho e Chororó. Era a irmã, que tinha tomado um tombo no banheiro. Estava bem, mas o médico achava prudente levá-la para fazer alguns exames. Precisava dos dados do plano de saúde. Onde estava a carteirinha? Passado o nervosismo inicial e resolvidas as questões urgentes, inclusive marcação do seu retorno para o dia seguinte, tentaram voltar à cama. Mas ela estava repleta de realidade. Sem chance de sexo.


Leia  também:


"Resposta" de Eduardo Haak em  http://beatrizmoreiralima.blogspot.com.br/2013/04/viagem-cancun.html 

"Resposta" anônima em http://beatrizmoreiralima.blogspot.com.br/2013/05/meleca.html

"Resposta" de Jorge Henrique Cordeiro em http://beatrizmoreiralima.blogspot.com.br/2013/05/quem-e-ela-ou-sexo-x-realidade.html










 

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